terça-feira, 28 de outubro de 2014

Existe diferença entre santos e beatos?



Um beato, reconhecido oficialmente como tal, não é santo? Da mesma forma como também são santos todos aqueles não reconhecidos que, após a morte, estão no céu?
A resposta é do Padre Valerio Mauro, professor de Teologia Sacramental.
«Uma tradicional divisão da comunhão dos santos, que constitui a Igreja como povo de Deus, distingue a Igreja peregrina, a nossa condição na história, daquela gloriosa, os santos no céu, e daquela em um estado de purificação, os defuntos pelos quais rezamos.
Quando a Igreja reconhece a santidade de uma pessoa, existe uma mudança precisa: a nossa relação com aquele cristão passa de uma oração por ele(a), em seu favor, a um pedido de oração voltado para ele(a). Certamente o convite à oração recíproca tem valores para todos, como nos lembra o apóstolo Tiago: “rezem uns pelos outros” (Tg 5,16). Precisamos da oração dos irmãos na fé durante o nosso caminho em direção ao Reino de Deus ou pela nossa última purificação.

Os santos e beatos intercedem por nós enquanto da parte deles estão em comunhão definitiva com Deus, na espera da manifestação do Senhor Jesus Cristo quando retornará na glória da ressurreição dos mortos. A tradição ortodoxa expressa bem esta passagem com uma liturgia formal, dita glorificação e distinta em duas partes: a primeira se desenvolve pela última vez uma oração em favor do defunto, passando pela primeira vez a uma liturgia na qual se dirigem orações oficiais ao novo santo. No dia seguinte é celebrada pela primeira vez uma missa durante a qual o santo é nomeado como tal, pela graça e a glória de Deus.
O culto dos santos, portanto, pertence aos modos com os quais a Igreja manifesta a sua fé através da oração, pessoal e comunitária. Cada expressão histórica da vida eclesial viveu mudanças e modificações no curso dos tempos. As primeiras atenções de uma oração pública voltada aos santos são aquelas para com os mártires, ligados a uma comunidade particular. Pensemos nos santos tradicionais como Lúcia, Ágata, Cecília ou os apóstolos, dos quais o martírio em uma cidade deu lugar a um culto precioso. De maneira singular a morte dos santos Pedro e Paulo, em Roma, decidiu pelo papel eclesial único do bispo daquela cidade. De maneira paralela o culto para com a Virgem Maria se liga à manifestação particular neste ou naquele lugar. Em síntese, o culto aos santos nasce ligado a um lugar, a uma comunidade local. Somente com o tempo se estende a outras comunidades. Os primeiros santos não mártires dos quais se conhece um culto são Antão, pai do monaquismo, e Martinho de Tours, o primeiro santo não mártir do qual temos um ofício litúrgico.
O culto público a um santo ou uma santa era confiado à aclamação popular ou a uma decisão episcopal: momento decisivo era a trasladação do corpo a um altar, que se tornava o centro do culto a ele voltado. Na Época Medieval, a Igreja começa a regular de maneira formal e universal, o reconhecimento de um culto litúrgico aos santos. É um período de crescente autoridade do Papa na Igreja e assistimos a várias intervenções dos pontífices. No século XIII, Gregório IX reservou as canonizações ao ministério do Papa, instituindo o processo para o reconhecimento da santidade de um cristão (Francisco de Assis foi o primeiro pelo qual se desenvolveu uma investigação através de testemunhos sobre sua vida e seus milagres). Em 1588, Sisto V, fundou a Sagrada Congregação dos Ritos, encarregando-a de examinar as várias candidaturas ao culto público. Com Urbano VIII e Bento XIV se elaboram normas ainda mais precisas, definindo a distinção entre beato e santos: o beato goza somente de um culto público na Igreja local (diocese, região ou país), o santo é proposto ao culto da Igreja universal.
A distinção formal entre beato e santo, portanto, não diz da presença deles no céu, mas da difusão do culto deles em nível de uma Igreja local ou da Igreja universal. Segundo a teologia católica, desenvolvida no período medieval, na declaração de santidade, ou “canonização”, o pontífice se pronuncia pela nossa fé, propondo à Igreja universal um culto público e legítimo para aquele(a) santo(a). Em 1983, o então Papa João Paulo II emanou novas normas, por meio da Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister (Mestre da Divina Perfeição), reorganizando o processo através do qual um cristão pode ser reconhecido como digno de um culto público e, desta forma, canonizado. Quando nasce uma devoção popular por uma pessoa, morta em fama de santidade, abre-se um processo diocesano, através do qual é examinada a heroicidade de suas virtudes, os seus escritos e a devoção popular. Uma comissão é encarregada de verificar o milagre apresentado para a beatificação e atribuído à intercessão do servo de Deus. Um segundo milagre é pedido para a canonização.
À luz deste breve panorama histórico, podemos responder em síntese à pergunta acima:
A distinção entre beato e santo é historicamente ligada à difusão do seu culto. Nos nossos tempos os termos são muito mais nuances, mesmo em razão das enormes possibilidades de comunicação. Basta pensar no Padre Pio de Pietrelcina, que suscitou ao seu redor uma devoção universal já antes de ser reconhecido beato. Todavia, um sinal litúrgico que poderia ser importante a conservar é a modalidade da proclamação de beato e de santo. A cerimônia de beatificação pode acontecer na cidade que deu lugar ao culto popular, reservando para as canonizações as cerimônias na Basílica de São Pedro e a intervenção pessoal do Pontífice, pois é para o culto universal. É uma pequena distinção útil, que dá valor à Igreja local onde o(a) santo(a) recebeu a sua formação cristã e deu exemplo de vida evangélica. Enfim, para os inúmeros santos desconhecidos, que no silêncio transcorreram uma vida cristã cheia de conversão e fidelidade plena ao Evangelho de Cristo, a Igreja conhece a festa de 1º de novembro, na qual honra todos os santos e não por acaso esta festa precede a lembrança litúrgica dos nossos defuntos, dia 2 de novembro.
Voltamos, assim, ao sentido profundo do culto dos santos e dos beatos, acenado ao início do nosso discurso: na comunhão eclesial que se manifesta através da oração, sobretudo a oração litúrgica, os santos são aqueles companheiros nossos de viagem com os quais passamos da oração de intercessão feita por eles à oração voltada para eles, para que intercedam junto ao Senhor por nós.

(by www.aleteia.org)

2 comentários:

  1. Muito esclarecedor.

    Isabel Gomes

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