Os primeiros cristãos denominavam "santo"
todo e qualquer batizado, enquanto templo do Espírito Santo. Depois, começando
a tributar um culto especial aos mártires, passaram a dar essa designação
apenas a quem tinha morrido em defesa da fé.
Ainda durante as perseguições, os fiéis começaram a
venerar também os "confessores", ou seja, aqueles que ... diante das
autoridades proclamaram a fé, mas, por alguma circunstância, não foram martirizados.
Surgiram depois os primeiros grandes ascetas, cuja
vida de sacrifício foi considerada um gênero de martírio. E a partir do séc. V
os calendários dos santos foram enriquecidos com os nomes de outras pessoas que
viveram na perfeição os preceitos evangélicos, praticando as virtudes em grau heroico, de modo especial a fé, a esperança e a caridade.
Como se definia quem podia ser cultuado:
No primeiro milênio da Igreja, o culto aos mártires e
aos confessores era regulamentado pelas Igrejas particulares. Cabia aos bispos
- individualmente ou em conjunto, por ocasião dos sínodos - autorizar um novo
culto, o qual começava com a "elevação ou a transladação do corpo" do
santo.
Esse ato era chamado de "canonização
episcopal" ou "canonização particular", porque envolvia apenas a
Igreja local.
No século XI começou a firmar-se o princípio de que
somente o Romano Pontífice tem poder para autorizar um culto público, seja para
uma Igreja particular, seja para a Igreja universal. E o Papa Gregório IX fixou
essa norma em 1234.
No século XIV a Santa Sé passou a autorizar a
prestação de culto, limitado a determinados lugares, a alguns servos de Deus
cuja causa de canonização ainda estava em andamento ou mesmo não tinha sido
iniciada.
Esta concessão, orientada para a futura canonização, é
a origem do que se denomina hoje beatificação. A partir do Papa Sisto IV
(1483), os servos de Deus aos quais se prestava um culto limitado passaram a
ser chamados de Beatos ou Bem-aventurados.
Ficou assim estabelecida em caráter definitivo a
diferença entre os títulos de Bem-aventurado - o servo de Deus que foi
beatificado - e Santo, o Beato que foi canonizado.
Diferença entre beatificação e canonização:
A beatificação é, pois, uma etapa do processo de
canonização, pela qual se proclama que o servo de Deus goza da felicidade
eterna, ou seja, é um Beato ou Bem-aventurado, e se autoriza que lhe seja
prestado um culto limitado (a uma diocese, a um país, a uma congregação
religiosa, etc.). Ela não envolve a infalibilidade pontifícia.
Já a canonização é um ato definitivo pelo qual o Sumo
Pontífice decreta que o Bem-aventurado seja inscrito no Catálogo dos Santos
para ser cultuado pelos fiéis em todo o mundo.
A canonização envolve a infalibilidade pontifícia,
conforme explica o Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para
as Causas dos Santos, no documento "A face da Igreja se renova na
continuidade", publicado em 29 de setembro deste ano. Ela é feita, afirma
o Purpurado, "mediante um decreto, definitivo e preceptivo para toda a
Igreja, comprometendo o Magistério solene do Romano Pontífice. Isto se exprime
de modo inequívoco na fórmula: ‘Para honra da Santa e Indivisível Trindade
(...) pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos santos Apóstolos Pedro
e Paulo, e pela Nossa (...) declaramos e definimos'".
Nenhuma canonização se faz sem prévias e minuciosas investigações,
estudos e pesquisas sobre a vida, obras, escritos e virtudes do servo de Deus.
E a Igreja exige duas provas de caráter sobrenatural, dois milagres: um para o
servo de Deus ser proclamado Beato, outro para o Beato ser proclamado Santo.
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2005, n. 48, p. 17)
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