sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Batismo: início do caminho da santidade

Há mais de 200 anos, mais exatamente há 203 anos, no dia 26 de abril de 1810, uma criança era conduzida à Pia Batismal da Capela de Santo Antônio e ali recebia a graça da filiação divina e o gérmen da santidade. Era a menina Francisca Paula de Jesus, futuramente conhecida como Nhá Chica. Isso aconteceu em sua terra natal, Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, um pequeno povoado próximo a São João del’Rei, onde se situava a Fazenda Porteira dos Vilela, onde nascera.
O Pe. Manoel Antônio de Castro, coadjutor da Matriz de São João del’Rei anotou o ocorrido no Livro de Batismos daquela paróquia: «Aos vinte e seis dias de abril de mil oitocentos e dez, na Capela de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, filial  desta Matriz de São João del’Rei, (…) o Reverendo Joaquim José Alves[1] batizou e pôs os Santos Óleos a FRANCISCA[2], filha natural de Isabel Maria, e foram padrinhos Ângelo Alves e Francisca Maria Rodrigues».

O historiador sanjoanense, Antônio Gaio Sobrinho, informou no I Encontro de Estudos sobre Nhá Chica, ocorrido em 21 e 22 de maio de 2004, em Baependi/MG, nas dependências da Associação Beneficente Nhá Chica (ABNC), que o Ângelo Alves, o padrinho de Francisca, foi o hospedeiro do famoso naturalista francês Augusto de Saint-Hilaire que por duas vezes esteve em Rio das Mortes (1819 e 1822). Informou ainda que Ângelo Alves Ferreira Rodrigues era filho de Pascoal Alves Ferreira Rodrigues e Josefa Ferreira Barreto que lhe deixaram em herança uma parte de sua fazenda na estrada de Rio das Mortes Pequeno, aplicação de Santo Antônio, na freguesia de São João del’Rei. Ângelo morreu solteiro em 13 de maio de 1823, deixando uma filha, Rita Maria Ferreira, de sua companheira Isabel Batista, com quem nunca fora casado. «Quanto à madrinha de Nhá Chica, Francisca Maria Rodrigues, era ela filha natural de Ana Páscoa, moradora da mesma paragem do Rio das Mortes, também em terras que antes pertencera a Pascoal Alves Ferreira Rodrigues, e morreu sem filhos nem herdeiros, no dia 07 de março de 1827»[3], deixando sua herança a duas escravas: Ana, de 26 anos e Eva, de 7 anos. O Prof. Antônio G. Sobrinho, na mesma ocasião levantou a hipótese que permanece carente de provas e aprofundamento de que Nhá Chica e sua mãe tenham sido escravas de Ângelo Alves ou ainda que tenha sido ele o pai desconhecido de Nhá Chica.
Considerados esses elementos históricos, passemos ao que nos interessa propriamente, o elemento místico-teológico:
Há poucos dias o Santo Padre Francisco (considere-se aqui a feliz coincidência dos nomes) afirmou numa de suas homilias cotidianas da missa matutina que preside na Casa Santa Marta, no Vaticano, onde permanece residindo desde sua eleição, que o batismo é todo o necessário para evangelizar. Ou seja, que todo cristão batizado está apto e devidamente credenciado, além de que também incumbido pelo próprio fato de ser batizado da missão evangelizadora, que é a missão da Igreja à qual se passa a pertencer pelo próprio batismo.
Podemos aqui, matizar a ideia do Papa e aplica-la também, sem prejuízo à obra da evangelização, à tarefa cristã, pessoal e comunitária, da santidade. Se o batismo é todo o necessário para a evangelização, também o é para a santidade.
É outra feliz e providencial coincidência que a Beatificação da Venerável Serva de Deus Nhá Chica, transcorra tão proximamente da data do seu batismo. Este fato deve resgatar em nós batizados a consciência de que temos, precisamente pela graça do santo batismo, todo o necessário para trilhar os caminhos da santidade trilhados por Nhá Chica e agora reconhecidos pela Igreja e propostos como exemplares aos fiéis. É precisamente isto a beatificação.
Pelo batismo somos remidos do pecado.
Pelo batismo fomos inseridos na comunidade dos fiéis.
Pelo batismo recebemos o dom da fé.
Pelo batismo fomos inseridos no único corpo de Cristo, a Igreja.
Pelo batismo recebemos o gérmen da vida eterna.
Costumo dizer nas celebrações do batismo que nossos pais nos deram a vida mortal, corpórea, física ou fisiológica, enfim, a vida que começou na fecundação e terminará decompondo-se no cemitério. Porém a mãe Igreja, fecundada pelo mistério pascal de Cristo, nos dá – pelo batismo – a vida imortal, a vida que ultrapassará o cemitério e permanecerá para sempre, como permanece a de Francisca, passados mais de 200 anos. Essas duas dimensões da vida são inseparáveis, pois pertencem a um único desígnio criador e salvífico de Deus. Contudo as distinguimos para de novo juntando-as tomarmos consciência da importância do nosso batismo, no contexto de toda a nossa vida humana, no que diz respeito ao nosso caminho rumo à maturidade de Cristo e seu seguimento, que chamamos santidade.
A Venerável Serva de Deus Nhá Chica, em pouco tempo Bem-aventurada Francisca Paula de Jesus, nos ensina que não é preciso mais que do que a graça do batismo, recebida inconscientemente, em torno dos seus 2 anos de idade, para que floresça em nossa vida o projeto de Deus e correspondamos a Ele com santidade de vida e simples obras de caridade e fraternidade que se tornem sinais credíveis do Evangelho ontem, hoje e para sempre.

[1] Joaquim José Alves, padre, nasceu aos 14 e foi batizado aos 24 de fevereiro 1768. Faleceu aos 06 de agosto de 1833.
[2] Grifo nosso
[3] Antônio Gaio Sobrinho, em Anais do I Encontro de Estudos sobre Nhá Chica, p. 72.


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